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Testes para varíola dos macacos: veja tira-dúvidas sobre como fazer, onde conseguir e os requisitos

O Brasil contabilizava, segundo o Ministério da Saúde, 2.415 casos confirmados de varíola dos macacos (monkeypox) até o dia 9 de agosto. A testagem para a doença ainda não é oferecida de forma ampla no país: o governo tem oito laboratórios de referência para análise das amostras. Até o dia 9, haviam sido realizados 6.986 exames diagnósticos da doença na rede pública.

Abaixo, veja os seguintes pontos sobre os testes:

Como estão sendo feitos os testes para varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil?

Os planos de saúde são obrigados a cobrir a testagem?

Que testes existem para detectar a varíola dos macacos?

A testagem pode ser feita pelo sangue, com testes de antígenos ou de anticorpos (sorologia)?

Estou com sintomas. Como eu consigo um teste?

Se eu estiver com suspeita ou recebi um diagnóstico positivo, o que devo fazer?

O que é um caso 'suspeito'?

O que é um caso 'provável'?

O que é um caso 'confirmado'?

O que é um caso 'descartado'?

Existe subnotificação de casos da varíola dos macacos (monkeypox)?

1) Como estão sendo feitos os testes no Brasil?

Segundo o Ministério da Saúde, o diagnóstico para a varíola dos macacos é feito exclusivamente por um teste do tipo PCR seguido de sequenciamento viral de partes específicas do vírus.

Esse sequenciamento é necessário nos casos em que o teste PCR não identifica diretamente o vírus da varíola dos macacos – e sim o gênero ao qual ele pertence, o dos Orthopoxvirus (veja detalhes na pergunta 3).

Conforme informações obtidas pelo g1 junto ao Ministério da Saúde, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), os exames são realizados em todos os pacientes notificados que se enquadrarem na definição de caso suspeito (veja detalhes mais abaixo) e que tenham amostras clínicas coletadas.

A amostra é coletada com um cotonete (swab) caso as manchas estejam em vesícula (veja imagem abaixo). Quando as lesões estão em crosta, a amostra é coletada por raspagem da ferida ou por um fragmento dela.

2) Os planos de saúde são obrigados a cobrir a testagem?

Além da rede pública, alguns laboratórios privados no país estão realizando testagens. Por ora, diferentemente dos testes rápidos para Covid-19, os planos de saúde NÃO são obrigados a cobrir os procedimentos.

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou ao g1, como o oferecimento dos testes na rede privada ainda é “incipiente” e depende dos kits de testagem que precisam ser aprovados pela Anvisa, os testes não constam atualmente no rol de cobertura obrigatória pelas operadoras de saúde.

O g1 também entrou em contato com os principais laboratórios de análises clínicas do país, com a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), entidade que reúne cerca de 30 redes de medicina diagnóstica, e a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), que representa a indústria dos importadores e distribuidores de diagnóstico.

"Cada laboratório está tendo sua velocidade, mas eu diria que apenas os maiores estão, nesse momento, com condições de fazer um teste in-house [desenvolvidos pelos próprios laboratórios]. Então fica algo restrito a poucos centros", afirma Carlos Eduardo Gouvêa, presidente executivo da CBDL.

3) Quais testes existem para detectar a varíola dos macacos?

Existem dois tipos de teste PCR que podem ser feitos para identificar a varíola dos macacos, explica Helio Magarinos Torres Filho, diretor do laboratório Richet Medicina & Diagnóstico, no Rio de Janeiro.

O primeiro deles identifica três vírus do gênero Orthopoxvirus: o da varíola humana, varíola bovina e o da varíola dos macacos.

"Este teste tem sido usado em alguns lugares, levando em consideração que a varíola [humana] foi erradicada e a varíola bovina não afeta humanos, um resultado positivo tem grandes chances de ser monkeypox [varíola dos macacos], mas tem de ser confirmado com um teste específico", esclarece Torres Filho.

Existe, ainda, uma segunda opção de teste, específico para o vírus da varíola dos macacos. Segundo o Ministério da Saúde informou ao g1, esse é o teste usado para diagnóstico da doença no sistema público.

"No começo, a gente não tinha reagentes específicos para monkeypox – tinha para orthopoxvírus. Só que os reagentes que eu tenho não diziam, no PCR, que era monkeypox. Dizia, se fosse positivo, que era [do gênero] orthopox. Então sequenciava e via se era monkeypox. Hoje em dia, a gente reagentes específicos para monkeypox, então não há necessidade de sequenciar", explica a virologista Clarissa Damaso, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ainda não há registro comercial de testes na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) específicos para a monkeypox. Por isso, os que estão sendo usados foram desenvolvidos pelos próprios laboratórios – o que é chamado de desenvolvimento "in-house" – e não podem ser comercializados.

Até o dia 11, a Anvisa avaliava seis pedidos de registro de testes comerciais para diagnóstico da doença.

O que diz a OMS?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta que o teste para diagnosticar a varíola dos macacos seja genérico para o gênero Orthopoxvirus ou, preferencialmente, específico para o vírus da varíola dos macacos.

Depois do PCR, a entidade também orienta que seja feito o sequenciamento do vírus, para determinar a epidemiologia da doença e o grupo genético (clado) ao qual ele pertence, ou seja, sua origem.

Existem dois grupos genéticos (ou clados) conhecidos da varíola dos macacos: um é o clado dois, do oeste da África, que mata em menos de 1% dos casos; é o que está circulando no Brasil e em outros países não africanos. Já o o outro grupo genético, o clado um, vem da Bacia do Congo, na África Central, e tem uma taxa de letalidade que chega a 10% dos casos.

4) A testagem pode ser feita pelo sangue, com testes de antígenos ou de anticorpos (sorologia)?

De forma geral, não.

Segundo o Ministério da Saúde, o resultado dos testes do tipo PCR em amostras sanguíneas geralmente é inconclusivo, por causa da curta duração do vírus no sangue. Por isso, esses testes não devem ser feitos de forma rotineira.

Já os testes de antígeno e de anticorpos (sorologia) não fornecem confirmação específica para a varíola dos macacos, disse a pasta. Por isso, eles "não são recomendados para diagnóstico ou investigação de casos", informou o ministério, acrescentando que esses testes devem ser usados apenas se os sinais clínicos da doença forem claros e objetivos.

"Dependendo da apresentação clínica, pode não haver uma viragem sorológica. A sorologia não é um bom método para diagnosticar monkeypox. O melhor é detectar o vírus nas lesões por PCR", reforça Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). "É provável que novos exames sorológicos sejam desenvolvidos, com melhor sensibilidade".

"Não é feito o teste sorológico, no sangue, porque não tem. Simples", explica o infectologista Alexandre Zavascki, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

"É uma doença que, como estava restrita à África, basicamente, não tinha nenhuma pesquisa ou interesse em desenvolver técnicas diagnósticas mais simples. Certamente já estão, agora, desenvolvendo testes sorológicos. A questão [é] quando vai ficar disponível para ser usado comercialmente, clinicamente", avalia.

A Universidade Federal de Goiás (UFG) criou um teste rápido para detectar o vírus. A cientista Gabriela Duarte, que trabalhou no desenvolvimento, explica que o teste é similar ao PCR, mas feito de forma mais rápida.

"É um teste molecular, que detecta o DNA do vírus. Similar ao PCR, que amplifica o DNA do vírus. Só que a técnica que utilizamos, chamada LAMP, faz essa amplificação mais rápida, por ser realizada em temperatura constante",

Assim como o PCR, o teste desenvolvido pela universidade também funciona melhor com amostras coletadas das lesões de pele do paciente.

Duarte explica, entretanto, que o teste ainda precisa ser validado, com um grande número de amostras, para determinar a sua sensibilidade – capacidade do teste de identificar o vírus na amostra quando ele está presente – e especificidade – capacidade do teste de apontar um resultado positivo apenas para as amostras que têm o vírus procurado, ou seja, não "confundir" com outros vírus eventualmente encontrados.

Por usar insumos nacionais, o exame também é barato, mas, por enquanto, não há planos de comercialização.

"A UFG não tem intenção de escalar o teste em escala industrial. Somos um laboratório de pesquisa. Nossa função é desenvolver o teste. Estamos iniciando conversas com o setor público de saúde de Goiás", afirma Duarte.

A virologista Clarissa Damaso, da UFRJ, vê vantagens em se criar um teste rápido para a doença.

"O teste rápido iria ajudar bastante, porque, se os próprios estados tivessem, eles já não mandariam tantos casos [para os laboratórios de referência] que acabam sendo negativos. Certamente, isso facilitaria", avalia.

5) Estou com sintomas. Como eu consigo um teste?

No SUS, para ser testado, o paciente precisa passar por uma consulta médica.

"O acesso a teste de monkeypox ainda é bem mais restrito do que o acesso inicial, até, [ao] da Covid mesmo", comenta Alexandre Zavascki, da UFRGS.

Depois, o caso suspeito é notificado à vigilância epidemiológica local, que vai dar as orientações para coleta das amostras.

"A testagem varia de local para local, porque os fluxos são estaduais nesse caso", completa Bruno Ishigami, infectologista de Recife.

"Aqui em Pernambuco, o caso suspeito deve ser notificado, o município onde o paciente foi notificado vai realizar a coleta – que é um swab das lesões de pele, das lesões da mucosa – e [é] enviado para o laboratório central, que é o Lacen, o laboratório onde tem a capacidade para processar essas amostras", explica.

"Não existe grande disponibilidade de testes, assim como hoje existem pra Covid, mas lembra o cenário de outras doenças infectocontagiosas, ou até da própria Covid no início da pandemia. As testagens ficam em locais mais restritos", completa Ishigami.

Na rede privada, porém, como destaca a Abramed, esse exame não precisa de prescrição médica, mas é recomendado que seja indicado por um profissional de saúde após avaliação.

6) Se eu estiver com suspeita ou recebi um diagnóstico positivo, o que devo fazer?

Os especialistas ouvidos pelo g1 orientam que, em caso de suspeita de varíola dos macacos (veja detalhes mais abaixo), a pessoa já fique em isolamento até a confirmação ou descarte do caso.

Se o diagnóstico for positivo, é preciso, então, fazer o isolamento até que as lesões estejam totalmente curadas. Isso é importante porque, mesmo quando já estão com uma "casquinha", ou seja, a crosta, elas continuam sendo infecciosas.

"O isolamento deve ser realizado por cerca de 3 semanas ou até a completa cicatrização das lesões. Isso significa que a transmissão ocorre enquanto houver lesões (o que inclui as crostas). Ainda não sabemos da viabilidade da transmissão através de fluidos sexuais após a resolução da lesão cutânea", explica Jamal Suleiman, infectologista do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo.

"A pessoa tem que se afastar das atividades escolares e de trabalho", completa.

"Tem que cair a casquinha, voltar de novo a pele, e daí não é mais transmissível. E isso vai de 14 a 28 dias – é um período bem longo", completa Alexandre Zavascki, da UFRGS.

A OMS orienta as seguintes medidas para evitar a transmissão da doença em casa:

ficar em um cômodo separado;

usar um banheiro separado ou limpar após cada uso;

limpar as superfícies tocadas com frequência com água e sabão e um desinfetante doméstico e evitar varrer/aspirar: isso pode espalhar as partículas do vírus e infectar outros;

usar utensílios, toalhas, roupas de cama e eletrônicos separados;

lavar sua própria roupa, levantando roupas de cama, roupas e toalhas com cuidado e sem sacudi-los, colocar os materiais em um saco plástico antes de levá-lo à máquina e lavá-los com água quente, acima de 60°C;

abrir janelas para uma boa ventilação;

incentivar todos na casa a limparem as mãos regularmente com água e sabão ou um desinfetante para as mãos à base de álcool.

"É um isolamento diferente, porque é um isolamento de contato", comenta Zavascki. "A princípio, o isolamento não precisa ser isolamento respiratório [como o da Covid], mas é um isolamento de contato, então tem que cuidar [do] compartilhamento de objetos no domicílio", exemplifica.

7) O que é um caso 'suspeito'?

Ainda segundo o Ministério da Saúde, uma pessoa é considerada um caso "suspeito" de monkeypox se, desde 15 de março de 2022, teve início súbito de:

febre;

gânglios inchados (adenomegalia);

erupção, caroços ou inchaço na pele;

lesões de pele típicas da varíola dos macacos (veja imagem abaixo).

8) O que é um caso 'provável'?

O caso se torna provável para a varíola dos macacos quando, além dos critérios de um caso suspeito, a pessoa atende a um dos seguintes pontos:

teve exposição próxima e prolongada a alguém infectado sem usar proteção respiratória nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas;

teve contato físico direto com alguém infectado – incluindo contato sexual – nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas;

teve contato com materiais contaminados – como roupas ou roupas de cama – de alguém que é um caso provável ou confirmado de monkeypox nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas;

tem histórico de viagem para um país onde a monkeypox é endêmica ou com casos confirmados da doença nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas;

ainda não tem confirmação laboratorial.

9) O que é um caso 'confirmado'?

O caso de monkeypox passa a ser confirmado quando a pessoa com suspeita da doença tem uma confirmação laboratorial – em teste do tipo PCR – de que está infectada.

10) O que é um caso 'descartado'?

O Ministério da Saúde classifica como caso "descartado" um caso suspeito que:

não atende ao critério de confirmação para a varíola dos macacos (não tem uma confirmação laboratorial do vírus);

ou que tenha o diagnóstico – clínico ou laboratorial – confirmado para outra doença.

11) Existe subnotificação de casos da varíola dos macacos (monkeypox)?

Para a virologista Clarissa Damaso, da UFRJ, é possível haver subnotificação de casos da doença no Brasil, por vários fatores: um deles é que os sintomas da doença têm aparecido de forma diferente – e por vezes mais branda – da vista no continente africano, o que leva a algumas consequências.

"Sempre que tem casos brandos de qualquer infecção, há subnotificação. Isso aí é claro. Se você está com uma lesãozinha, acha que é uma espinha, você não vai procurar um médico por causa daquilo, não está se sentindo mal, e pode ser um caso de monkeypox que passe subnotificado", lembra.

"Toda vez que a gente tem manifestações clínicas tanto atípicas quanto mais brandas, há um aumento de subnotificação. Eu não sei qual o tamanho da subnotificação, mas toda subnotificação, de qualquer infecção, é ruim, porque a única maneira de a gente conter uma infecção é saber onde estão os casos – ainda mais uma infecção com uma transmissão dessa, que é por contato, onde a pessoa tem que permanecer em isolamento", acrescenta Damaso.

A virologista também acredita que é difícil determinar se essa eventual subnotificação é maior ou menor do que a vista nos casos de Covid, por exemplo.

"Eu acho que não dá muito para comparar Covid com monkeypox. São vírus completamente diferentes, de transmissão completamente diferente, manifestação clínica também", diz.

G1



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